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MULHERES QUE PRESIDEM SINDICATOS DA PF NO PAÍS FALAM SOBRE REPRESENTATIVIDADE

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A gestão atual da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) decidiu abrir espaço oficialmente para a representação feminina na entidade. Foi formalizada em Assembleia Geral Extraordinária, em novembro do ano passado, a criação da Diretoria da Mulher.

A demanda pela nova diretoria teve origem no Grupo de Trabalho das Mulheres Policiais Federais, formado em 2014 pela entidade, já na gestão do presidente Luís Antônio Boudens. O pedido de uma diretoria ganhou impulso durante o último Congresso Nacional dos Policiais Federais, realizado em novembro de 2018.

Em 2014, época da criação do GT das Mulheres, as discussões foram pautadas pela tramitação do PL 275/2001, que já alcançava 13 anos de tramitação no Congresso Nacional e versava sobre a isonomia de tratamento entre as mulheres policiais e as trabalhadoras em geral, que contavam com cinco anos a menos de contribuição em relação aos homens. Como resultado do esforço do GT e empenho das mulheres policiais de outras forças, como PRF e Polícia Civil, foi aprovada a LC 144/2014.

A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) compreendeu que as mulheres da Polícia Federal têm uma pauta de reivindicações específica. Isso ficou ainda mais claro com a Reforma da Previdência. “A categoria toda foi atingida, mas as mulheres foram ainda mais prejudicadas. Há casos de colegas que terão que pagar ‘pedágio’ de até dois mil por cento do tempo que faltava para se aposentar”, explica o presidente da entidade, Luís Antônio Boudens.

A certeza da necessidade de abrir espaço para a pauta feminina na representação sindical foi o catalisador para a criação da nova Diretoria, que será eleita juntamente com a próxima Diretoria Executiva da Fenapef nas eleições marcadas para 2021.

Representação sindical

Em todo o Brasil, quarenta mulheres policiais federais já têm cargos em representações sindicais de policiais federais. Mas são apenas quatro as presidentes: nos sindicatos do Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Pará. Elas são vanguarda num universo tradicionalmente masculino, mas onde a presença da mulher já é significativa. “Se a gente for ver, o sindicalismo sempre foi hostil à presença feminina”, se queixa Cleisi Ferreira, presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Pará (Sinpef-PA).

“Elas precisam ter seu espaço reconhecido; suas lutas têm características específicas”, destaca o presidente da Fenapef, Luís Antônio Boudens.

São batalhas únicas, que já começam no treinamento. “Apenas recentemente a que a Polícia Federal está tomando uma atitude e elaborando projetos como defesa pessoal para mulheres e tiro para mulheres”, comenta a presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Estado do Paraná (Sinpef-PR), Bibiana Orsi. Conhecida por sua atuação sindical desde que tomou posse como agente na fronteira, em 2008, ela defende a criação de uma política institucional de respeito às mulheres até como forma de atrair mais profissionais do sexo feminino para a área de segurança.

“A mulher precisa que o sistema seja adaptado e isso não deve acontecer porque não somos capazes, mas porque somos diferentes”, defende Karin Peiter, presidente do Sindicato dos Policiais Federais de Santa Catarina (Sinpofesc). “Eu não quero ser igual aos homens, quero que nós mulheres sejamos reconhecidas por sermos como somos. Somos mulheres em um mundo masculino que não foi pensado para nós”, explica.

Respeito às diferenças também é o pedido de Susanna do Val Moore, presidente do Sindicato dos Policiais Federais do estado de São Paulo (Sindpolf-SP). “Não temos muitas práticas que atentem à fisiologia feminina e, dentro da luta sindical, estamos também reivindicando esse espaço de equidade”, detalhou. Segundo ela, a simples criação de um curso de tiro para mulheres é uma medida relevante: “Não tem sentido fazer um curso desses sem levar em conta que nossa mão é menor do que a dos colegas homens, por exemplo”, explicou.

“Temos que brigar para ter direito a um treinamento que consigamos aplicar. Eu, como mulher, tenho direito de aprender uma técnica que leve em conta as características do meu corpo, porque não faz sentido te ensinarem coisas que você não vai conseguir usar e, depois, quando percebem que você não conseguiu, ficarem te dizendo que você é fraca”, emenda Bibiana Orsi.

O ingresso na atividade sindical para essas policiais teve muito mais relação com a luta pelos direitos da categoria do que pela questão de gênero.  “Ninguém entra na polícia pensando em ser sindicalista, mas a briga por melhores condições nos leva aos sindicatos”, resume Bibiana.

Já para Karin, o início foi a observação dos movimentos grevistas de 2004 e 2012.

“Se somos o que somos hoje é porque os colegas mais antigos lutaram muito para que nós fossemos reconhecidos. Sou muito grata a eles”, reconhece. Ela diz que sempre teve interesse pela vida sindical, mas que só decidiu participar quando sentiu necessidade de “dar um fôlego” na representação.

Susanna foi convidada por um colega que acreditou em seu perfil. E Cleisi foi atraída por uma “questão jurídica”, mas está certa de que as mulheres fazem um trabalho com características próprias. “Não existe uma fórmula milagrosa para revolucionar o sindicalismo, mas a mulher tem uma sensibilidade maior sobre essas questões; acho que temos um pensamento crítico melhor”, acredita ela, que defende um modelo de sindicalismo com mais movimento. “Queremos mais democracia, menos hierarquia, mais políticas e menos corporativismo”, enumera.

“Eu nunca abaixei a cabeça por ser mulher, não seria na polícia que isso iria acontecer”. Essa é a definição da presidente do Sinpofesc para a sua “vida sindical”. É mais ou menos o resumo da atuação de todas as novas líderes como representantes de classe.

Algumas das líderes sindicais têm pretensões que vão muito além dos sindicatos. Bibiana Orsi, por exemplo, foi candidata a deputada federal e é grande incentivadora da participação feminina nos espaços políticos. ”Enquanto as mulheres não pensarem as políticas públicas, vamos continuar vítimas da visão limitada dos homens. Eu digo limitada não porque eles pensem menos, mas porque pensam de forma diversa”, explicou.

Ela quer uma polícia diferente. ”Mais humanizada, tanto para quem trabalha como para quem está fora”, detalha.  Ela lembra que as mulheres são hoje apenas 5% do contingente da Polícia Federal. “Não é fácil, mas a gente deve continuar brigando para ocupar o nosso espaço. Ninguém vai abrir espaço para as mulheres de graça; temos que continuar lutando para conquistar, porque merecer, a gente já merece”, conclui.

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